Vem aí o open delivery: tecnologia promete aumento da concorrência e redução de taxas de entregas
Os brasileiros estão se acostumando a ouvir termos como open banking e open finance. Agora é a vez do open delivery. Hoje, os restaurantes escolhem os marketplaces – como iFood e Rappi – em que querem vender e precisam fazer os cadastros em cada um deles.
Com o open delivery, os restaurantes poderão padronizar os cardápios e pedidos em vários marketplaces diferentes que adotarem a tecnologia. Assim, quando o cardápio for publicado, todas as empresas que estiverem dentro do open delivery vão começar a vender para aquele restaurante.
O open delivery, criado pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), está em fase de testes e a expectativa é de que os players do mercado adotem o sistema de forma maciça até o final do ano.
O que é o open delivery? É uma linguagem que padroniza os sistemas de delivery, disponível gratuitamente na internet. Para um restaurante poder aderir ao open delivery, é preciso que a empresa de software do seu restaurante, dos aplicativos ou das adquirentes implementem a tecnologia.
“Os restaurantes que tiverem acesso à padronização vão distribuir o cardápio pelo sistema e receber todos os pedidos em um lugar só, de forma padronizada. Não é um aplicativo, uma plataforma, um sistema e, portanto, não faz o contato do restaurante com o cliente. O open delivery, por ser uma tecnologia, é invisível, mas ao padronizar protocolos, permite mais segurança e conforto aos envolvidos”, afirma Celio Salles, conselheiro de administração nacional da Abrasel.
Algumas empresas que já estão participando da fase de testes são Stone, Rede, Cielo e Getnet. “Qualquer software que decidir aderir ao open delivery pode oferecer os serviços. Também podem participar adquirentes do sistema financeiro. Até o Google poderá oferecer o open delivery, se quiser”, afirma Salles.
Como funciona? O restaurante vai ter o trabalho inicial de montar um cardápio que atenda a todas as especificações para que seja distribuído de forma padronizada em todos os marketplaces do open delivery.
“Hoje, os restaurantes passam por várias etapas para publicar e alterar o cardápio em cada um dos aplicativos em que fazem suas vendas. Com o padrão open delivery, a publicação do cardápio se dará automaticamente nos marketplaces, assim como alterações que façam ao longo do tempo”, afirma Salles.
Na prática, nada muda para o consumidor na hora de fazer um pedido. “É uma padronização da linguagem de comunicação. Na prática, não muda nada para o consumidor na hora de fazer seu pedido, mas vai abrir um monte de portas e deixar o mercado mais democrático”, afirma Bianchini.
Todo mundo vai aderir?
Provavelmente não, principalmente porque o sistema não é obrigatório. Para Bianchini, os principais players do mercado de delivery (iFood, Rappi e Uber Eats) não têm motivos para se interessar pela tecnologia, já que consolidaram suas marcas e têm um público cativo.
“Os grandes, principalmente Uber e iFood, não devem ter interesse na solução. O iFood, por exemplo, lançou recentemente uma API nova e vai investir tempo e recurso nela. No final do dia, vamos ficar com três ou quatro grandes players de tecnologia, os principais que já existem mais o open delivery”, afirma Marcelo Bianchini, diretor de produtos e negócios da E-Deploy.
“É uma quebra de barreiras tecnológicas, mas não creio que vai ser todo o mercado que vai migrar 100% para isso”, afirma Bianchini.
O que os apps dizem?
O Rappi afirmou que “vê com bons olhos ações que fomentem uma maior competitividade no setor, e tem acompanhado e contribuído com a iniciativa de open delivery da Abrasel”.
Já o iFood diz que acompanhou desde o início o projeto de open delivery da Abrasel como forma de fortalecer sua parceria com o setor. “Recentemente, aceitamos o convite da Abrasel e ingressamos no conselho de governança do open delivery, órgão de gestão do projeto, que envolve diversas empresas de tecnologia, delivery, bancos entre outros. Até o momento, não há nenhuma decisão por parte do iFood sobre aderir à plataforma aberta”, afirmou o iFood em nota.
Procurado pela reportagem para saber se vai aderir ao open delivery, o Uber Eats não quis se pronunciar.
Quais as vantagens ao mercado?
Para Salles, a iniciativa vai reduzir o número de erros nos pedidos e fazer com que cheguem de forma organizada em uma mesma tela. Assim, os restaurantes devem conseguir estar em mais marketplaces ao mesmo tempo, aumentando a competitividade do mercado.
“Se o restaurante tem mais de um marketplace parceiro, cada um tem seu sistema separado. Os pedidos chegam em locais diferentes e, por isso, a maioria dos restaurantes conseguem estar em, no máximo, três ou quatro plataformas”, afirma Salles.
Do jeito que é hoje, os restaurantes acabam ficando reféns dos aplicativos líderes de mercado, sem muitas opções de expansão. “Como hoje o mercado está muito concentrado, o fato de os restaurantes terem que escolher poucos parceiros faz com que continue assim. Quem coloca os cardápios em vários parceiros ao mesmo tempo tende a se desorganizar”, afirma Salles.
As taxas dos marketplaces aos restaurantes tendem a melhorar com o open delivery. “Para o restaurante você aumenta a demanda e a concorrência certamente vai melhorar as taxas e o serviço no geral”, afirma Bianchini.
“Considerando toda a situação e a importância que o delivery passou a ter no mercado de alimentação durante a pandemia, quebrar barreiras tecnológicas e deixar a discussão só no ambiente de negócios ajuda muito. Tendo um sistema aderente à nova tecnologia, abre uma infinidade de vendedores aos bares e restaurantes. Aumenta a concorrência e diminui o custo de operação. É uma das ferramentas que pode ajudar na retomada e na volta ao normal”, diz Bianchini.
Para Simone Galante, fundadora e CEO da Galunion Consultoria, o protocolo vai facilitar a vida de todos os envolvidos. “Acreditamos que o open delivery é uma iniciativa promissora para padronizar os protocolos de integração entre as diferentes possibilidades que hoje um restaurante tem para atender seu cliente em muitos canais de vendas distintos, tais como marketplaces, apps, sites, mídias sociais, entre outros”, afirma Galante.
O que o consumidor ganha com o open delivery? Aumento de opções e, provavelmente, taxas mais atrativas. “O cliente terá mais opções de aplicativos para comprar a sua comida ou o seu restaurante preferido. Além disso, as taxas que os aplicativos cobram variam muito, mas obviamente que se o líder de mercado cobra mais alto, o cara que está chegando agora cobra mais barato. O cliente será beneficiado por mais opção de escolha em aplicativos, e eventualmente pode envolver agilidade”, afirma Salles.
“A grande importância é tentar padronizar o mercado que está se tornando cada vez mais competitivo. O open delivery é completamente transparente para o consumidor final. Com ele, vão surgir cada vez mais ofertas e mais marketplaces”, afirma Bianchini.
Para que mais empresas entrem no open delivery, a partir do dia 13 de setembro a Abrasel vai lançar uma campanha para que os bares e restaurantes conheçam o sistema e peçam para que as empresas de softwares, adquirentes e aplicativos façam parte do sistema.
“A nossa expectativa é que esteja amplamente adotado até o final do ano. O prazo vai depender de cada empresa, já que cada uma tem sua lista de prioridades. Cada empresa tem que desenvolver a solução dentro do seu tempo e da sua capacidade”, afirma Salles.